Críticas Séries

Crítica: Ms. Marvel

Nove anos após sua primeira aparição nos quadrinhos, Kamala Khan faz sua estreia no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), protagonizando sua própria série. Os seis episódios de Ms. Marvel já estão disponíveis no Disney+ e apresentam a nova heroína, sua cultura e um novo conceito aguardado pelos fãs!

A adolescente de origem paquistanesa, moradora de New Jersey, Kamala Khan (Iman Vellani), divide o seu tempo entre a escola, a mesquita, seus parentes e amigos. Mas seu principal hobby é sonhar com a incrível vida dos super-heróis como os Vingadores. Tudo que ela mais quer é um dia ser igual a sua maior inspiração, Carol Danvers, a Capitã Marvel (Brie Larson). Tudo muda quando a garota descobre uma velha relíquia de sua bisavó que ativa seus superpoderes acidentalmente. Kamala entra em uma aventura para descobrir mais sobre o passado de sua família enquanto é perseguida por ameaças humanas e sobre-humanas.

Uma série adolescente para uma heroína adolescente

Crítica | Ms. Marvel

Antes de tudo, é importante destacar que essa é uma produção que assume em todos os momentos seu direcionamento a um público infanto-juvenil e adolescente. Diferente de algumas obras seriadas mais recentes do estúdio, como Cavaleiro da Lua, ou WandaVision, Ms. Marvel aposta na leveza tanto no enredo, quanto no visual. Sua simplicidade a faz parecer mais com as séries teens características da Disney do que com os épicos heróicos do selo Marvel. Isso nem de longe é um ponto fraco. Porém, esse tom pode não agradar uma parte do público que ficou mal acostumado em sempre esperar uma grandiosidade exagerada em obras de super-heróis. Isso inclui aqueles que têm dificuldade em entender que filmes e séries desse tipo também podem ser feitas para entreter outras audiências.

Alguns dos clichês dessa idade estão presentes, como a jornada de descoberta, a relação às vezes conflituosa com os pais e o clássico triângulo amoroso. Alguns desses elementos são bem trabalhados, como a convivência de Kamala com sua família que tem um papel relevante para o desenrolar da história. Entretanto, outros pontos não acrescentam muito ou pelo menos não justificam de fato os acontecimentos da narrativa ou as ações de personagens, como é o caso do triângulo amoroso entre Kamala, seu melhor amigo Bruno (Matt Lintz) e Kamram (Rish Shah).

A série, sobretudo, sabe dialogar com o seu público alvo. A ambientação e representação dos adolescentes dos dias de hoje é bem feita, fugindo dos esteriótipos ultrapassados. Elementos comuns dos jovens atualmente, como as redes sociais cumprem um papel convincente, sem demonstrar uma tentativa forçada de atualização da obra.

Novas cores para o universo Marvel

Ms. Marvel

O objetivo evidente da série é apresentar não só a nova personagem, mas também a sua cultura. Kamala, que é muçulmana, leva os espectadores junto com ela por toda uma viagem para conhecer mais sobre os seus costumes. Em todos os episódios, informações relacionadas ao islã e a como é a vida e cotidiano dessa comunidade nos EUA aparecem na tala e nos diálogos. Por vezes, o roteiro se torna desnecessariamente expositivo. Mas essa ainda é uma forma válida de enriquecer a mitologia do MCU trazendo mais diversidade e mostrando como outras culturas enxergariam um mundo repleto de super-seres. Vale um elogio à forma coerente como o roteiro insere um momento histórico importate para o Paquistão e a Índia dentro da trama.

A herança cultural de Kamala não está presente só nos diálogos, ela também contribui muito para o visual da produção. A direção de arte é o maior acerto aqui. Já nos primeiros minutos é possível ver animações que se misturam aos cenários, como se fossem grafites em movimento, dando vida à imaginação da protagonista, algo digno das HQ’s. Toda a estética com as referências mulçumanas e do sul asiático aguçam os sentidos, desde os figurinos coloridos até a trilha sonora, recheada de hip-hops de artistas paquistaneses. Além, é claro, de um apanhado de referências visuais às produções de Bollywood, com direito a uma sequência inteira de dança para quebrar o gelo.

O elenco, apesar de não contar com muitos grandes nomes, nem com rostos conhecidos do MCU, faz sua parte com copetência. Como era de se esperar, atores e atrizes de origem sul-asiática vivem muitos dos personagens. O grande destaque está justamente em Iman. A jovem atriz incorpora com sucesso a personalidade carismática de Kamala, sendo uma adição ao elenco estrelado da Marvel com grande potencial de se tornar uma queridinha do público nessa nova fase. É divertido ver a interação entre os amigos e familiares de Kamala. Mesmo que nenhum deles chame muita atenção, a presença de cada um é uma base importante para o desenvolvimento da protagonista.

Controvérsias e revelações

Ms. Marvel

Desde que foram divulgadas as primeiras artes e informações confirmando a mudança nas origens e nos poderes da personagem, boa parte do público se incomodou com as diferenças em relação ao material original. Na série, Kamala é capaz de criar projeções de energia, dando origem a escudos e extenções de seus membros. A Ms. Marvel dos quadrinhos, por sua vez, tem a habilidade de esticar partes do seu corpo e alterar sua aparência. Nas HQ’s, os superpoderes servem como uma metáfora para as transformações que vivemos durante a adolescência e eles têm um papel importante no amadurecimento e aceitação pessoal da personagem. A produção do Disney+ não explora esse arco, devido às mudanças, que podem até ter ficado visualmente mais atraentes, mas a fazem perder uma boa oportunidade de deixar a trama mais rica.

Contudo, a alteração que com certeza vai gerar mais repercursão é revelada nos últimos minutos da temporada. A revelação por trás dos poderes da heroína abrem margem para a entrada de um novo núcleo de personagens importantes na mitologia da Marvel. Isso aliado ao acontecimento que ocorre na breve cena pós-créditos conseguem ser os momentos mais empolgantes entre todos os capítulos.

Ms. Marvel

Ms. Marvel em formato de série de televisão faz o mesmo que fez nas HQ’s, tentar trazer as últimas gerações para mais perto dos super-heróis. A linguagem utilizada acerta nessa missão. Mesmo sendo divertida de assistir, ainda é visível o quanto a personagem poderia ter sido melhor explorada. O fato de ser uma obra infanto-juvenil não justifica um roteiro por vezes raso que gasta mais tempo explicando coisas óbvias do que se desenvolvendo. Como se o seu público não fosse capaz de entender as mensagens de maneira mais ágil.

Ainda assim, o show nos dá uma nova super-heroína carismática que certamente vai ser um dos rostos principais do futuro. A próxima aparição de Kamala já está confirmada para o longa The Marvels, continuação do filme solo da Capitã Marvel. Resta aguardar para ver as consequências das revelações feitas e encontrarmos a simpática Iman e sua Kamala novamente.

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